2.6.06

Ser ou não ser: Esta não é a questão!


A pergunta de Jesus sobre si mesmo─ “ Que dizem os homens ser o filho do homem?” ─, não fornece pistas, pelo menos, e inicialmente imaginamos assim, para um questionamento que nos revele de sua personalidade, um desejo de auto-conhecimento nos níveis Freudianos ou Hameletianos─Neste último, onde a personagem se encontra mergulhada em um conflito existencial próprio dos simples mortais.Ou fornece? Nada está descartado neste momento. Contudo, este movimento introspectivo de Jesus torna-se enigmático e curioso, ao mesmo tempo age em nossas mentes como se fosse um fio condutor de um grande tecido histórico-biográfico que vai nos puxando sutilmente para o interior do texto, nos impelindo a sermos participante-construtores de sua história, de seu mundo, de sua introspecção, de si mesmo, como em um jogo silencioso e misterioso, próprios de quem sabe construir em torno de si, situações de oculta mento. Na biografia de Jesus, percebe-se que nada é totalmente acabado: há sempre um desaparecimento, um atraso, uma hora que ainda não é chegada totalmente, uma situação de confronto entre o possível e o impossível. E como se cada um de seus leitores, em qualquer momento da história fosse desafiado a reelaborar imaginativamente os espaços em branco ( Fill in the blanks!), as lacunas não abonadas pelos diversos escritores canônicos, que enquanto pobres mortais, tentaram dizer-nos o indizível. O lócus da questão em Jesus de Nazaré tem a ver com uma concepção que na verdade revela mais de nós mesmo que dEle, propriamente dito. O seu texto passa a equivaler a uma verdadeira porta aberta onde todos são convidados a entrar e encontrar descanso para as suas almas...pastagens! Este descanso está muito relacionado com o que construímos de Jesus de Nazaré e do que dEle nos apropriamos para ser de fato um gozo real e não ficcional, na dimensão da percepção meta-transcendente, em cada um. Não adianta não crer, não adianta não receber, não adianta não viver, porque assim, nada vai acontecer. Neste jogo de ocultação, onde é jogo porque não se perde de vista de todo, as nuances que se deixa transparentes ao longo da história, intencional ou não, termina por revelar um Jesus extremamente perspicaz, curioso e sutil...Um Jesus lúdico─, haja vista que as páginas das escrituras não nos escondem a dimensão humana dEle. De um Jesus que se perde na multidão para se achar depois no meio de outra multidão, de um Jesus que se deixa ficar para trás, para ser o que é visto na frente, de um Jesus que se cala para ser verdadeiramente ouvido pela força do silencio, de um Jesus que some, desaparece e reaparece magistralmente, de um Jesus que conta a história da vida pela morte! Que mesmo circundado, se sente abandonado. E desta parte do Jesus homem que nos ocupamos, por estar mais próxima de nossa existencialidade tão misteriosa e complexa, que pode, talvez, fornecer pistas para uma compreensão de nossos limites. De nossa natureza. De que valeria se referenciar em um ser que não é de nossa composição, e, que portanto, talvez não representasse bem o exemplo de possibilidade de nos soerguermos em tempos de crises, em momentos de descidas? Nesse particular, o Jesus histórico figura como uma possibilidade de nos mirarmos e nos enxergarmos possíveis de triunfar nos saltos escuros dos vales da sombra da morte. No espaço crepuscular perigoso de nossa alma. No labirinto infinito de nossa mente. E em sua pergunta, aprendemos que o caminho para o auto-conhecimento pode ser, também, inicialmente pelo conhecimento acerca do juízo que os outros fazem de nós mesmos: “ Que dizem os homens ser o filho do homem?”

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