9.5.07

Primeiro dia das mães sem a minha mãe viva: Que saudade!



Tributo à memória de uma mãe carinhosa e guerreira que partiu recentemente...

Eu sempre saia com papai para os lugares que ele ia para se divertir nos fins de semana. Fosse em casa de amigos ou de parentes, estava muitas vezes com ele. Ele gostava de futebol e outros esportes. Percebia que ele bebia demais. Ele era um beberrão e quando bebia muito agredia mamãe. Mamãe era uma mulher de gênio muito forte e se atracava com ele, em sua própria defesa quando havia brigas. Eu não entendia por que eles faziam juras de amor um para o outro, diante dos filhos , (seis), e depois, ao beber, tentava agredi-la. Aquilo me machucava muito. Ele tinha um nível intelectual que não condizia com o que fazia. Vivia no meio de uma elite social e intelectual que talvez pudesse lhe dar um exemplo diferente, mas ele não agia como esperado socialmente. Então, quando ele não estava bebendo, o nosso lar era um céu. Eles se beijavam, trocavam caricias e ficavam na cama agarradinhos. Eu ficava olhando aquilo de longe, escondido, e me sentia um pouco feliz. Mas, o álcool sempre nos assombrava. Quando ele chegava da rua, eu torcia, ainda bem menininho, uns 5, 6, 7 anos para ele não estar bebendo. Quando a porta era aberta e eu sentia o cheiro de álcool na boca dele, eu estremecia, e como um "flash back", eu rebobinava mentalmente tudo que sempre acontecia antes. Era uma tortura daquele momento ate saber quando iria explodir o conflito. Um dia, eles se atracaram ferozmente e ela apanhou uma panela pesada, um escorredor de macarrão, e ia atiçar no rosto dele, quando eu, menininho, entrei na luta e ao me meter no meio deles, senti uma forte pancada na testa. Fui atingido em cheio. Eles correram para me acudir desesperados, porem aquilo não impediu que eles continuassem se digladiando. Claro que ocasionalmente havia momentos de muita alegria, sempre unilateralmente, ou ele dava ou ela dava, nunca os dois nos davam conjuntamente. Mas, como em um verdadeiro “Flush out" tudo se esvaia. Eu me perguntava: Por que não podemos fazer esse momento de felicidade ficar parado aqui para sempre? -Uma pergunta de menino pequeno! Mamãe faleceu no dia 05 de maio de 2007 e papai continua vivo. Este será meu primeiro ano e primeiro dia das mães que passarei sem minha mãe viva. Ela faleceu um dia depois de fazer aniversario. 04 de maio.

Mas, nem tudo foi tristeza. Eu também confeccionei meus próprios brinquedos de madeira, como muitos garotos de minha idade, brinquedos artesanais como aqueles onde usávamos rolimãs ( Ball bearings em inglês), com elas eu fazia patinetes, que eram carros de madeira, que usávamos dirigindo para sair pela rua com a meninada fazendo competição. Brinquei de cavalinho, que eu mesmo fazia com cabos d emadeira de vassouras, empinei arraia,( Pipas ), temperava a linha com cola e vidro para cortar a linha dos colegas no ar, uma espécie de competição de arraias que empinávamos, nadava muito no rio em uma ilha aqui em minha cidade, quando ia veranear em janeiro e fevereiro, tirava cajus nos pés com varas que fazíamos para isso, subia em pés de abacates, eu e minha irmã, para roubar abacates do vizinho que era quase cego, mas muito ranzinza e pão-duro, não deixando ninguém pegar abacates do chão, inclusive colocava os cachorros dele atrás da petizada, e corríamos todos desesperados, mas em gargalhadas, jogava bola de grude, fazia coleção de figurinhas e tinha minha turma da pesada que batia bala, ( trocar figurinhas de álbum de jogadores de seleção), tinha coleção de revistas em quadrinhos e lia todos os almanaques do meu tempo, colecionava selos do mundo todo e tinha uma linda coleção de carrinhos de ferro importados da Europa, ganha de presente porque não podia comprá-los a época. Ia quase todos os domingos para a casa de minha tia passar com os primos e almoçar. Era aquele o momento mais mágico. Eles eram meus ídolos. Tinha veneração por eles porque eles eram bem livres, tinham tudo que desejavam, e gostavam muito da gente. Eles nos amavam de verdade. Sentia falta deles a semana toda. Brincávamos pra valer. A noite todos voltávamos para casa e eles iam nos levar ate o ônibus. Sentia uma tristeza ao deixá-los para trás. Ficava torcendo para reencontrá-los. Minha mãe era uma mulher muito cuidadosa com a gente. Ela investia pesado no nosso lazer. Sempre balneários, praias ver o por do sol no Farol da Barra em Salvador. Lugar lindo em Salvador. Recebi uma sólida educação. Foi assim minha infância.
Renato Calazans,

2 Comments:

At 00:27, Blogger GENA said...

Renato,meu amigo,como vc escreve bem!!!Tenho medo até de tentar comentar qualquer coisa.
Eu não tinha conhecimento dessa sua infância rica de emoções tão ambíguas.
Me surpreendi em perceber nossos gostos tão semelhantes por brincadeiras infantis.Alguns desses gostos levaram minha mãe a se preocupar por serem gostos extravagantes p/uma "GAROTA"
Bela homenagem à sua mãe.
Parabéns

 
At 07:11, Anonymous Anonymous said...

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